Em 2021, o futebol brasileiro implementou o modelo de SAFs, em que os clubes passam a poder operar como empresas e, sendo assim, podem também ser vendidos para compradores interessados. Desde então, muitos times vêm explorando essa nova oportunidade de gestão. Passados dois anos depois da novidade das SAFs, em que situação estão os clubes na Série A do campeonato brasileiro?
América Mineiro
O América Mineiro foi um dos primeiros clubes do Brasil a fazer a transição de associação civil para a SAF. Mas ele possui uma diferença fundamental dos demais citados neste texto: o Coelho ainda não recebeu nenhum investimento para a sua Sociedade Anônima de Futebol.
O time vem tentando fechar negócios há algum tempo, chegando a ter conversas avançadas para concretizar vendas, mas que no fim das contas acabaram não sendo concretizadas. Segundo apuração do ge, o clube está atualmente em diálogo com um empresário austríaco com experiência em gestão esportiva, mas os diálogos ainda são incipientes.
Depois de 26 rodadas do Brasileirão, o América Mineiro ocupa a 19º posição e tem grandes chances de ser rebaixado para a segunda divisão. A equipe conseguiu o acesso para a Série A em 2020, quando foi campeão segundona, e nos dois anos seguintes na elite do futebol brasileiro finalizou na 8º e 10º posição, respectivamente.
Bahia
Por meio de votação dos sócios em dezembro de 2022, foi aprovada a formação da SAF do Bahia e a venda de 90% dos seus direitos para o Grupo City, que tem como seu maior clube o Manchester City da Inglaterra. O acordo prevê um investimento de R$ 1 bilhão ao longo de 15 anos.
Para a temporada 2023, o Grupo City já investiu cerca de R$ 90 milhões na aquisição de 25 atletas, número recorde em comparação com os últimos cinco anos de movimentações no clube tricolor. Alguns desses investimentos vem dando bons resultados, como foi o caso do meia Cauly e o goleiro Marcos Felipe. Contudo, o mesmo não pode ser dito para outras peças do elenco, como foi o equatoriano Chávez, a contratação mais cara do Bahia no início do ano (R$ 18 milhões) e que já não integra o time por ter sido emprestado para o Independiente Dell Vale.
Depois de 26 rodadas do Brasileirão, o Bahia está na luta para fugir do rebaixamento amargando a pior campanha da história do time na era dos pontos corridos da Série A. Vale destacar que o Tricolor de Aço foi um dos que subiu para a elite na temporada de 2022.
Botafogo
No início de 2022, foi oficializada a venda de 90% da SAF do Botafogo para o empresário John Textor. O acordo firmado prevê um investimento de R$ 400 milhões ao longo de quatro anos do norte-americano para o clube carioca, mas esta quantia pode se ampliar posteriormente.
No primeiro ano de gestão do novo proprietário, os resultados esportivos foram cambaleantes, mas conseguiram finalizar na 10º posição no Brasileirão com vaga para a Copa Sul-Americana. Já as finanças do ano passado e ainda deste ano seguem sendo um ponto de preocupação.
Mesmo depois de Textor ter se comprometido a arcar R$ 900 milhões das dívidas do Botafogo, o clube ainda passa por dificuldades para equilibrar suas contas, recorrendo até mesmo a empréstimos de instituições financeiras. Em 2022, o time tinha um passivo oneroso de R$ 614 milhões, segundo dados do ge.
Por outro lado, o Glorioso vive um dos melhores momentos da sua história recente no Campeonato Brasileiro. Com 26 rodadas disputadas, o Botafogo é líder absoluto com 7 pontos de vantagem em relação ao segundo colocado. Os bons resultados são fruto das boas contratações, como a de Tiquinho Soares, atacante que é artilheiro do Brasileirão e uma das figuras centrais do elenco alvinegro, e também do trabalho realizado pelo técnico Luiz Castro, que acabou deixando o clube no meio da temporada para comandar o Al-Nassr da Arábia Saudita.
Com o desempenho deste ano, o Botafogo pode ser campeão brasileiro pela primeira vez desde 1995.
Coritiba
Comparado aos outros clubes citados, o Coritiba é um dos que possui compra de SAF mais recentes. No caso do Coxa, 90% da sua Sociedade Anônima de Futebol foi comprada pela Treecorp Investimentos por R$ 1,1 bilhão (que será pago ao longo de 10 anos) em junho deste ano. Como o investimento é recente, o que é possível de analisar são os prospectos que os novos proprietários pretendem trazer ao clube.
A Treecorp pretende quitar a dívida do Coritiba, que atualmente é de R$ 270 milhões; construir um novo centro de treinamento; fazer investimento na operação do clube de R$ 450 milhões ao longo de 10 anos; e realizar reforma e modernização no Estádio Couto Pereira.
Atualmente, o Coritiba tem grandes chances de ser rebaixado para a segunda divisão, tendo alcançado somente 17 pontos em 26 rodadas da competição. A situação é consequência de uma temporada com jogos de baixo nível e muitas derrotas.
Cruzeiro
A SAF do Cruzeiro foi comprada pela Tara Sports, empresa que tem Ronaldo Fenômeno como sócio majoritário, em abril de 2022 por R$ 400 milhões. Na época, a Raposa ainda estava na Série B do Brasileirão e, sob a nova gestão, foi campeã da competição, assim garantindo o acesso para a primeira divisão na temporada seguinte. Na atual temporada, passa por altos e baixos, mas se mantém longe da zona de rebaixamento.
A chegada do investimento da SAF rendeu resultados esportivos razoáveis, mas o clube ainda passa por muita insegurança financeira. Segundo dados do ge, o Cruzeiro finalizou 2022 com dívida de R$ 800 milhões, a terceira maior entre os clubes da Série do último ano. Agora em 2023, Ronaldo afirmou que sua empresa se compromete a pagar R$ 682 milhões ao longo de 18 anos.
Cuiabá
O Cuiabá se destaca pelo fato curioso de já ser um clube-empresa mesmo antes da sua transição para o modelo de SAF. O clube vem sendo gerido pela família Dresch desde 2009 e possui uma trajetória de ascensão muito interessante no futebol brasileiro.
Na parte financeira, o Dourado carrega o trunfo de ser o time menos endividado do Brasil, tendo terminado 2022 com apenas R$ 3 milhões em passivos onerosos. E como a transição para a SAF foi somente uma formalidade, visto que os proprietários não mudaram, não houve um grande investimento repentino na gestão do clube.
O que impressiona no Cuiabá são seus resultados consistentes na elite nacional. A equipe passou nove anos na Série C, e depois do acesso à B passou somente duas temporadas por lá e agora ocupa a primeira divisão desde 2020. Em 2023, conseguiu uma sequência ótima de vitórias por volta da metade do campeonato e segue na parte intermediária da tabela sem muitos riscos de cair para a zona de rebaixamento.
Vasco da Gama
O Vasco da Gama talvez seja o clube com mais problemas entre os que receberam o investimento da SAF. A Sociedade Anônima do Gigante da Colina teve 70% da sua totalidade adquirida pela empresa 777 Partners pelo valor total de 1,4 bilhão. Deste montante, R$ 700 milhões são para investimentos no clube até 2026, e os outros R$ 700 milhões para pagar a dívida do clube, que no final de 2022 era de R$ 715 milhões.
Em resultados esportivos, o Vasco passou por um período extremamente difícil desde o início da temporada, principalmente pela sequência desastrosa no campeonato brasileiro. A equipe fez mais de 26 contratações para este ano e algumas peças não vingaram, como foi o caso do centroavante Pedro Raul, que já não integra o elenco do time.
Além disso, a equipe também passou por diversos episódios de conflito entre membros da associação civil e dirigentes que gerem a SAF do clube.
Por outro lado, nas últimas rodadas a equipe mostra uma reação interessante depois da chegada de novas peças na janela de transferência de meio de ano e também com a entrada do novo treinador Ramón Díaz.
Depois de passar boa parte da temporada como um time praticamente certo para ser rebaixado, o Vasco vem dando esperanças ao seu torcedor e talvez permaneça na primeira divisão depois do suado acesso de 2022.
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